Um estudo coordenado pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), com pesquisadores de vários países, revelou que duas espécies de peixes ameaçam a biodiversidade dos rios de Rondônia. A tilápia, de origem africana, e o pirarucu, nativo da bacia Amazônica, podem causar a extinção de espécies nativas que regulam a cadeia biológica da região e que servem de sustento para comunidades tradicionais e pescadores locais.
Apesar do pirarucu ser nativo da bacia Amazônica, ele foi observado em igarapés e rios de localidades onde não eram registrados naturalmente em anos anteriores. A pesquisa, coordenada pela pós-doutora em manejo pesqueiro e professora titular do departamento de biologia da Unir, Carolina Dória, revelou que, dependendo do hábito da espécie, a qualidade da água também pode ser afetada.
“Quando [a espécie] é invasora, quando não é do local e ela passa a ocupar o local, ela vai competir com as espécies antigas. Competir por alimento, por espaço, e ela pode modificar a qualidade da água dependendo do hábito da espécie”, explicou.
De acordo com a pesquisa, no caso da tilápia, a ameaça, primeiramente, é para os pequenos de igarapés do estado, mas que ao longo do tempo pode fluir para os rios.
“Em outros locais do mundo e do Brasil, onde ela [tilápia] passou a ocupar, ela passou a dominar o ambiente. Então você imagina um igarapé de Rondônia, que tem de 100 a 200 espécies, passar a ser ocupado ou dominado apenas pela tilápia, você tem uma perda de biodiversidade que é muito grande. A tilápia pode inclusive modificar a qualidade da água e prejudicar as espécies que vivem na região”, contou.
Sobre o pirarucu, a pesquisa explica que a espécie é nativa no Rio Madeira, mas apenas da área abaixo da usina de Santo Antônio e os que ficam acima são considerados invasores. Veja na imagem:
Pirarucu nos rios de Rondônia — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Por ser topo de cadeia alimentar, o pirarucu se torna um risco para os peixes menores, explicou a coordenadora da pesquisa.
“No caso do pirarucu, ele está se alimentando das espécies de pequeno porte, por exemplo pacu e sardinha e essas espécies vão diminuindo em abundância, por exemplo na área do reservatório [acima da usina de
Santo Antônio]. Em outras áreas, o pirarucu passa a ser dominante na pesca. Ele prejudica a subsistência de algumas comunidades”.
“A gente já ouve relatos de comunidades indígenas e extrativistas, tanto do Guaporé quanto do Mamoré, de que o pirarucu está dominando. Não é uma espécie que eles tradicionalmente consomem, e isso prejudica a segurança alimentar dessas comunidades. A nossa preocupação com o pirarucu é que possa ocorrer como ocorreu na Bolívia, onde em áreas também da bacia do Mamoré, o pirarucu chegou a representar 80% do desembarque pesqueiro, invertendo a composição do desembarque. Além de prejudicar a biodiversidade da fauna daquele ambiente, pode trazer prejuízos para pesca e para as comunidades ribeirinhas”, explicou.
Ao todo, a pesquisa identificou a ocorrência de 1.314 peixes não-nativos de 41 espécies diferentes em rios e lagos da Amazônia Legal. Foi constatado também que o Brasil é o segundo país mais afetado pela ocorrência de espécies não nativas, atrás apenas da Colômbia. O estudo foi publicado na revista suíça Frontiers.
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